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A culpa não é da internet


Foto: Pixabay

Na Educação, sobretudo, nos deparamos com várias questões ou queixas: Os jovens são - ou estão - cada vez mais superficiais! Eles são desatentos! Alguns sem memória! E mais: desinteressados! Tudo culpa da internet, desse mundo moderno e, claro, dessas novas tecnologias da informação e comunicação que, nessa velocidade exponencial, insistem em apresentar-se sempre novas, com alguma funcionalidade a mais! 

Essa gurizada não é nada sem a internet. Vivem sob o "efeito Google", não dão conta das tarefas essenciais ou das reflexões críticas porque têm e-mails demais por responder. Ou melhor: Nem isso, pois têm, na verdade, notificações demais das redes sociais virtuais porque e-mail, afinal, é coisa do passado.

Eu não consigo concordar, embora respeite quem pensa assim. Fato é que não posso fazê-lo, pelo menos não integralmente. Eu sei e dissemino a ideia de que um novo mundo, repleto de dados, conhecimentos e/ou excesso de informação, tecnologias revolucionárias e conexão constante, garantiu à Comunicação Social mudanças expressivas. E, como não poderia deixar de ser, o impacto da consequente convergência midiática foi - ou deve ser - sentido, também, nas instituições de ensino de todos os níveis e partes do mundo.

O que precisamos, sobretudo nessa dita cidade cultura, universitária, é compreender que aqui não é diferente. O coração de Santa Maria também precisa pulsar. Talvez estágios, velocidade, panorama, sejam diferentes. Mas os efeitos são, mais cedo ou mais tarde, sentidos. A verdade é que como ameaça ou oportunidade.

O tradicional modelo de ensinar, aquele que um fala e outros escutam, se esgota. Diante da nova e urgente condição do tempo, docentes e discentes têm novas responsabilidades. E, enquanto o espaço físico da aula e cronômetro se ressignificam, fomenta-se a seguinte questão: quais os limites e potencialidades do ritmo informacional que a comunicação exige frente ao perigo e oportunidade da (des)humanização? O quê, se educadores formos de verdade, temos de fazer diante de tanta informação, não para atrair a atenção, mas para garantir que tenhamos perfis críticos reflexivos e capazes, sobretudo?

Com a minha dissertação de mestrado entendi, finalmente, que somos imigrantes digitais nos relacionando com nativos digitais.

A verdade é que de tudo e tanto questiona-se não só o papel de softwares de redes sociais com elevada audiência, do Youtube, Facebook e o queridinho Instagram e dos próprios dispositivos móveis, seja no e pelo contexto político, social e econômico, como também a sua utilidade no âmbito educacional, seu significado, pontos fortes e fracos do tempo docente implicados nesse "universo" de dispositivos, relacionamentos e possibilidades.

Vani Moreira Kenski, que adoro ler, é exemplo, justamente, nesse contexto. A autora, promovendo reflexões sobre os tempos vivenciados nos dias de hoje (na verdade, nos últimos anos) e sobre a definição de tais enquanto múltiplos, apressados, urgentes e até difíceis, aborda a questão do tempo dedicado pelos professores diante dessa sua "nova versão", onde o espaço da sala de aula e a duração de seus ensinamentos quase perdem o sentido perante os canais virtuais de interação e comunicação.

A escassez múltipla do tempo, que, segundo a autora, tornou-se não só tema de pesquisa e estudo, mas também preocupação cotidiana, a mim causa inquietação perante os efeitos dessa condição do tempo para os alunos.

Para os alunos, Liana? Sim, para eles! Se a educação não for centrada neles, será em quem?

Ter o aluno enquanto protagonista, é preciso entender, não tira de cena o professor e nem o coloca contra a parede. Por certo, compreendemos que os novos tempos estudados por Kenski têm muito a nos revelar. Hoje, da mesma forma que os contratos docentes não preveem o excesso de trabalho - e nem o ritmo -, as mediações tecnológicas, ela diz, impõem uma nova maneira de lidar com as questões do ensino, dada "a informatização do trabalho e seu redimensionamento de escala planetária, provocando novos desafios e práticas", porém, os alunos, nascidos e com trânsito natural e livre no mundo digital, desconhecem, talvez, a barreira - se é que existe - entre o mundo real e virtual, assumindo a condição de retratos da era da instantaneidade.

Eles desejam agora e querem, também, agora. Os discentes se distanciam, cada vez mais, do "tempo do relógio". Afinal, se na atualidade são múltiplas as formas de interação e de articulação entre professores e alunos, via ambientes virtuais, listas, e-mails, chats e até troca de mensagens privadas acerca de dúvidas e entre perfis pessoais de redes sociais virtuais, como calcular o tempo docente? Mas, também, fundamentalmente, como calcular o discente? O relógio, enfim, pode "marcar" seus ponteiros na hora exata da conquista da aprendizagem? E, perante tudo isso, o principal: o relógio é capaz de marcar um objetivo alcançado?

Não, eu penso. Mas também penso que nossas dúvidas e anseios não são culpa da internet. Os jovens não estão ou são superficiais só por causa da sua velocidade e liquidez. Em tempos de convergência midiática, quando novas ferramentas auxiliam e potencializam o aprendizado, a comunicação entre instituição e aluno, oportuna ou perigosamente, (des)humaniza relações a ponto de atender, realmente, ou não, a expectativa do aluno do novo tempo.

Não propriamente na aldeia global que McLuhan (1969) esperava, mas onde a internet é indicador, senão fator vital, para a mudança nas formas de relações, acadêmicas ou comerciais, a web que Castells (2003) disse ter, justamente, transformado o modo como as pessoas se comunicam, revelou uma nova dinâmica.

E do paradigma da cultura da então convergência midiática, onde, de acordo com Jenkins (2008), autuam-se interações nunca propiciadas pelas mídias tradicionais e até alternativas, os alunos, do nosso então novo tempo, fazem parte de um também novo nicho de papéis, no qual as passadas relações, inclusive de aprender e ensinar, são desconstruídas pela concepção de cultura participativa, que sugere dinâmicas de interação cada vez mais complexas.

A questão aqui é, justamente, uma dessas dinâmicas. Por estarmos tão imersos na sociedade informacional temos uma tendência equivocada de crer que metodologias ativas e imersivas, que colocam o aluno como centro, são, necessariamente, mais de internet, mais de ferramentas digitais.

Mas a questão não são os chats, os fóruns, as plataformas e todo mais associado. É o olhar personalizado. É o feedback chamando o discente pelo nome.

Se o aluno de hoje vive um drama diante de tanta informação, ele precisa de um mentor. Se a superficialidade incomoda, ele precisa de um norte, de um curador. Isso não é problema meu, alguns pensam. Os alunos de hoje chegam ao ensino superior cheios de dificuldades oriundas da base, justifica-se. Concordo! Não tenho dúvidas. A educação infantil, ensino fundamental e médio requerem atenção para que o ensino superior não se distancie da concepção e potencialização de competências e habilidades afetas a seara profissional a que o aluno se propôs a desenvolver com nivelamento.

Mas experimente visitar uma sala de aula de pré-escola, do primeiro, segundo, terceiro ano. E não pense que estou falando de âmbitos escolares privados. Verdadeiros heróis exploram os mais diversos estilos de aprendizagem, vivência individual e coletiva e, sabemos, quando em muitos lugares sequer há um giz ou uma lousa, imagine dispositivos móveis.

O que quero dizer é que o problema é de todos nós. Seja qual nível for, nota-se que a questão é de comportamento, pensamento, cultura, amadurecimento e, especialmente, conhecimento de habilidades e limitações individuais. E, por certo, não temos instrumento para tudo. Mas precisamos esvaziar o copo. Diante do pressuposto de que a expectativa de discentes do Ensino Superior é de que as universidades/faculdades os preparem para compreender a sua época e desenvolver soluções para a descoberta, aperfeiçoamento e/ou potencialização de suas competências e habilidades, mirando num mercado exigente e sedento por perfis multifacetados, o que estamos fazendo?

Muito, eu sei. Se o mundo e incontáveis estudiosos acreditam que as instituições de educação do século XXI possam estar em descompasso com a resposta a essa expectativa, dentro desse contexto de interação, talvez precisemos começar com o que mais nos falta com e na internet: diálogo e abraços.

Algumas ideias interessantes: 

Marcos Aurélio Borges, de 55 anos, encontrou uma forma de fazer com que os estudantes, entre 10 e 12 anos, aprendam a língua inglesa de uma forma divertida. Mais de 27 mil pessoas já compartilharam o vídeo.

Em geral, metade dos estudantes dos cursos de engenharia e de ciências exatas reprova no primeiro semestre. O professor Ricardo não se conformou com esse resultado e criou um método simples, capaz de baixar para apenas 5% o índice de reprovação. 

Os alunos Professor Ayres de Moura viraram personagens de jogos de RPG; as histórias foram criadas pelos próprios jovens.

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